A Queda da Ciclovia na Niemeyer e o Bom Projeto de Engenharia

As normas técnicas e a boa prática recomendam que projetos de engenharia de infraestrutura sejam concebidos considerando todos os fatores externos, naturais ou artificiais, que podem exercer influência, direta ou indireta, sobre suas estruturas e demais elementos físicos do equipamento que está sendo projetado.

Causou consternação e grande sensação de insegurança o desabamento de um trecho da ciclovia recém inaugurada na Avenida Niemeyer, em São Conrado, na capital Fluminense. A tragédia, que causou vítimas fatais e prejuízos aos cofres públicos, gerou o debate instantâneo sobre a qualidade das obras de engenharia no Brasil. Afinal, o desabamento foi um acidente causado por um fenômeno natural atípico ou poderia ter sido evitado?

As primeiras declarações de técnicos e especialistas indicam que a ressaca observada na costa do Rio de Janeiro, que causou o desabamento da ciclovia, é considerada de intensidade “normal”. As perícias oficiais e demais diligências devem investigar com detalhes este aspecto. No entanto, já há análise de engenheiros especialistas constatando que os projetos básico e executivo da ciclovia não previram a ação das ondas e sua influência sobre a integridade da estrutura.

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Queda ciclovia na Niemeyer. Fonte: Reprodução / VEJA.

A viabilidade técnica, econômica e ambiental de um projeto de engenharia de infraestrutura deve, como primeiro critério de concepção, definir qual o risco aceitável para a preservação de vidas humanas. Só a partir deste ponto pode-se analisar os demais critérios. Em outras palavras, o projeto de uma ponte de uma rodovia que transpõe um rio deve prever uma cheia com alturas de recorrência de 100 anos. De mesmo modo, uma barragem de uma grande usina hidrelétrica não pode ser projetada para cheias com recorrência inferiores a 10.000 anos. Ambas as situações visam resguardar, prioritariamente, a segurança das pessoas, os danos ao meio ambiente e ao patrimônio público, nessa ordem de prioridades.

No caso da ciclovia, chama atenção o viaduto construído há mais de 100 anos, no mesmo trecho, que apresenta sua estrutura intacta. Considerando que o fenômeno oceânico não foi extraordinário, cabe a conclusão de que a engenharia falhou. Neste contexto, urge a necessidade de valorização da engenharia consultiva no Brasil, e o estímulo aos bons projetos, em contraponto ao imediatismo das obras executadas a toque de caixa e com pouco planejamento.